sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Relato de uma santa-mariense que se tornou vegetariana na Austrália

Foi no inicio de outubro, deste ano, que resolvi virar vegetariana. Claro que a decisão não veio do nada. Eu estava no processo há um bom tempo: por mais que adorasse churrasco, minhas mais recentes experiências carnívoras (de uns quatro anos pra cá) traziam sempre questionamento e culpa: passei a analisar mais e mais o fato de que eu estava ingerindo um ser morto. Comecei a ficar com nojo do coração de galinha. Analisava o sangue misturado com o arroz e não conseguia parar de pensar no fato de que aquele sangue, antes, mantinha vivo um ser.

“Queria ser vegetariana!”, idealizava. Mas, meio segundo mais tarde, já me desiludia: eu nunca conseguiria parar de comer carne. Eu, que nunca fui fã de vegetais e saladas, me frustrava com meu plano inatingível. Mas deixava pra lá e seguia.

O tempo passava e, enquanto isso, me mantive ocupada com meu AMOR incondicional por cachorros e animais em geral. Nada num nível emocional demais, eu estava consciente do fato, ficava frustrada com as barbaridades mas ao fim do dia, seguia a minha vida normal.

Mudei para Sydney em 2006 e já de cara conheci as duas pessoas que seriam minhas melhores amigas: uma brasileira e uma australiana, ambas vegetarianas.
Aqui em Sydney todo o restaurante oferece pelo menos duas ou três opções vegetarianas no Menu, então o “ser vegetariano” aqui soa muito mais normal do que no RS. Comecei a me acostumar com a idéia mas nunca pensei muito no assunto, afinal eu estava ocupada com outras coisas.

Acredito que dois episódios foram os “turning points” da minha vida.
O primeiro, quando fui jantar com meu namorado em um restaurante elegante e pedi lamb shanks (pernil de ovelha). O prato chegou e fiquei paralisada diante daquele pedaço de carne em sua mais fiel forma: eu fiquei imaginando aquela perna em vida, por onde correu, o que fez... E aquele osso visível foi o suficiente para me impedir de comer.

Confesso fiquei um pouco surpresa com minha reação, mas por outro lado abri um pouco minha mente. Coincidentemente, na semana seguinte, resolvi pesquisar ONGS que cuidam de direitos animais, pois eu estava a fim de fazer algum trabalho voluntário. Visitei PETA, WWF, WSPA e outras ONGs do Brasil quanto fatalmente cheguei ao filme Earthlings. E este foi o meu segundo “turning point”. Assisti ao filme sozinha em casa e chorei tanto, mas tanto, que cheguei a vomitar. Choro de raiva e tristeza, me frustrei, amaldiçoei toda a raça humana, fiquei com vontade de sumir desse mundo, pedi perdão pra Deus, Allah, Buda, Matrix, o que fosse.... Fiquei com vergonha de ser humana e viver num mundo desses.

No dia seguinte, virei vegetariana. Sem estudar dietas alternativas, sem pensar em repor o que fosse, sem me preocupar com o que iria comer (lembrando sempre que eu não como muita salada) mas única e exclusivamente pelo fato se que eu não iria mais fazer parte daquilo.

As primeiras semanas foram HORRÍVEIS. Eu fiquei com muita raiva. Muita frustração. Fiquei amarga, achando que todo o ser humano era egoísta e imprestável, que o mundo era horrível. Chorava quase todos os dias e as cenas do filme não saíam da minha cabeça. Resolvi acreditar que todo mundo que come carne não prestava. Briguei com mãe, irmã, amigas, primos. Meu namorado sempre foi vegetariano, mas o fato de ele achar que eu estava sendo muito radical era motivo pra eu enquadrar ele no mesmo grupo dos humanos complacentes. E assim não vivi minha vida durante aquelas semanas. Eu estava em raiva constante. Amarga. Infeliz por ver que o mundo tava uma m*&^%$ e eu não iria conseguir mudar tudo sozinha.

As reações das pessoas, então, me deixavam ainda mais infeliz. Obviamente, eu mandei o filme pra todo mundo que eu conheço e respostas do tipo: “Ai, se tem sangue nem me mostra”, “Mas tu não vai mudar o mundo, não adianta parar de comer carne” ou ainda “é triste né? E aí, o que vai fazer no fim de semana?” só me fizeram ver o quão egoísta, fútil e insensível é o ser humano.

Me desiludi com cada pessoa que contatei ao ver a indiferença com que lidavam com o tema. Parece que a maioria das pessoas vê as questões globais (ambiente, animais...) como algo que não lhes cabe. Algo que é de responsabilidade de alguém que não eles. E aí tudo fez sentido na minha mente: por isso que esse mundo está assim.
Enfim, me vi isolada e incompreendida, buscando apoio dos filósofos e da Pamela Anderson (maior ativista do Peta).

Segui na fase de revolta e amargura por umas três semanas até ter um grande surto, quando chorei por umas duas horas e cortei relações com todos os amigos e parentes próximos. Meu namorado, então, falou comigo e deixou claro que eu iria viver eternamente isolada socialmente e que seria melhor eu continuar vivendo a minha vida, porque até então, desde o momento que eu decidi ter virado vegetariana eu não falava, não pensava e não fazia outra coisa.

Foi assim, após chegar ao fundo do poço psicológico que resolvi, sem nenhuma outra opção, “take it easy” e relaxar um pouco. Com muita sorte, logo após esses surtos e desgaste aos quais estive submetida, comecei a tomar conhecimento de mais e mais vegetarianos. No trabalho. Amigos de amigos. Anywhere!

Fiquei sabendo de vocês! Da minha amigona Thais que também virou, e de várias outras coisas que foram me deixando mais e mais otimista. Me afiliei em várias ONGS e agora to fazendo relações-públicas como voluntária pro PETA Asia-Pacific.

O não comer mais carne às vezes fica muito difícil. Eu trabalho num Shopping Centre em cuja praça de alimentação temos MC Donalds, Hungry Jacks, KFC, O Porto... carnificina. Nessas situações de pressão, onde não tenho opções e preciso comer, me permito comer sashimi (salmão) porque refleti e cheguei a conclusão de que se alguém tem que ser comido, pelo menos o peixe passou a vida nadando livremente e não confinado sofrendo. Obviamente isso é o meu período de transição apenas, que não durará mais de três meses. Como estou estabilizada psicologicamente, resolvi ir com calma e fazer a coisa devagar para que não haja riscos de desistir no meio do caminho. Mas isso certamente não aconteceria.

Acho que a mudança é um caminho sem volta e ser vegetariano, apenas, não me basta. Acho que devemos agir em ONGS (ou mesmo em organizações radicais como a ALF – que, aliás, eu AMO) e também não mais financiar a indústria de cosméticos, couro, lã e pele.

Todos esses temas me atormentaram durante essas semanas de IRA que citei. Agora estou estudando formas de fazer alguma coisa. Nunca mais comprei nenhum artigo de couro, lã ou pele (e jamais comprarei de novo) e tudo o que entra na minha casa é não testado em animais e biodegradável.

Muita gente não sabe do que acontece nesse tipo de indústria e obviamente cabe a nós acabar com isso. É ridículo e cada vez que vejo qualquer cena relacionada a isso, sinto todas aquelas coisas que citei anteriormente.

Sei que fui muito passional no início da minha transição. Atualmente, pelo bem da minha sanidade mental e vida em sociedade, estou mais calma, contente em fazer minha parte. Não vou negar, porém, que odeio (e jogaria uma bomba, se pudesse) a China, por toda a barbaridade que acontece com os animais (se vocês não sabem, por favor, pesquisem e vejam vocês mesmos) e que cada vez que vejo alguém se deliciando com um pedação de carne me vem em mente toda a sorte de insultos.

Mas vou trabalhando a minha paz. Fiquei MUITO feliz de saber da existência de vocês e confesso que isso colaborou muito na reestabilização da minha psique. Foi uma injeção de ânimo saber que tem gente em SM se ligando nas coisas.

(fiquei sabendo recentemente que a UFSM faz vivisecção e outros procedimentos em animais vivos!!!!!!!!!!!!!!! Mas isso é pauta pra uma outra hora.)

Enfim, gurizada.... Desejo a todos um ótimo fim de ano e que todos tenham ATITUDE, saúde e sorte em 2009!


Dri Roveda – recém vegetariana
Gold Coast, Australia

8 comentários:

t disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Eu estava amando este post. A descrição inicial é EXATAMENTE tudo que passei para me tornar vegetariano.

Mas, me desculpe, não posso concordar com as ações da Dri.
Sashimi??? Quem viu todo horror, tomou consciência disso, consegue ainda comer sashimi??

Eu sei que nem todos conseguem fazer a transição de uma hora para outra. Eu, quando decidi me tornar vegetariano, ainda comi carne de frango por uns 20 ou 30 dias. Mas eu não me considerava vegetariano! Sabia que eu estava caminhando na direção certa, mas que ainda não era a coisa certa a se fazer.

Só acho ruim compartilhar a imagem de que podemos "ser vegetarianos mas comer um peixinho de vez em quando até acostumar".
Acho maravilhoso quem está nesta situação: se todo o mundo fizesse isso, a coisa já melhoraria bastante!

Mas acho importante deixar claro: vegetariano não come NENHUM tipo de carne.

Seria a mesma coisa que eu falasse que sou vegano, já que não como carne e não uso nada de couro, "mas como ovos e tomo leite até me acostumar".
Eu quero um dia me tornar vegano. Não uso nenhum produto em minhas roupas que tenha qualquer tipo de origem animal. Mas ainda não consegui largar ovos e leite. Então, simplesmente, sou ovo-lacto-vegetariano, e não vegano...

Admiro muito suas iniciativas (inclusive de apoiar grupos como o PETA), mas me desculpe se não concordo com os termos utilizados.

Just my 2 cents.

De qualquer maneira, muito boa sorte em sua transição!!!

t disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Com certeza ela não é carnivora. Mas também não acho que ela seja vegetariana.

Não tenho problemas com rótulos. E, reforço, acho incrível a atitude dela. Eu preferiria 10 pessoas pensando como ela do que apenas 1 que tivesse se tornado 100% vegetariana.

Só fico preocupado com um tipo de informação incorreta que está sendo divulgada: pessoas que leem este post podem achar que vegetarianos comem peixe. E todos precisam saber que não isso!

Daniele Pendeza disse...

Gostei muito desse post, e me identifiquei também!
Demorei algum tempo até conseguir ser vegetariana, após muito refletir e pesquisar sobre a realidade da nossa era, e assim que tive os olhos abertos vi quão maravilhoso o vegetarianismo é pra mim, pros animais e principalmente pro nosso planeta.
Já me disseram muitas vezes que não vou mudar o mundo me portando assim, que sou só uma, mas as grandes revoluções sempre começam assim! os núcleos fortes que sustentam as batalhas.
Parabéns Driéli, você é uma vencedora ;D

Luiz Eduardo Uchoa Cavalcanti disse...

12.05.2009 | 03h31

Vegetarianismo pode esconder distúrbio alimentar

Foi analisado o hábito alimentar de 2.516 americanos com idades entre 15 e 23 anos

UOL
Você passou a vida ouvindo sermão de vegetarianos sobre como quem não come carne é mais saudável? Contra-argumente: 20% dos jovens que se dizem vegetarianos na verdade sofrem de distúrbios alimentares, aponta uma pesquisa da Universidade de Minnesota (EUA).

Foi analisado o hábito alimentar de 2.516 americanos com idades entre 15 e 23 anos. Quase um em cada 20 deles (4,3%) disse não comer carne.

Dentre os vegetarianos, dois de cada dez admitiram usar a dieta verde para perder peso ou para mantê-lo. No controle da balança, usam táticas como comer pouco e vomitar.

Um quarto dos jovens americanos disse que vegetarianismo era "cool" (bacana) em pesquisa do instituto Teenage Research Unlimited.

No Brasil, o bacana é proteger os bichinhos: "A maioria dos vegetarianos com distúrbios diz que parou de comer carne por ter dó dos animais", diz Henrique Torres, médico do Núcleo de Investigação em Anorexia e Bulimia da Universidade Federal de MG.

Cerca de 90% dos pacientes dele são mulheres com menos de 20 anos. "Elas muitas vezes mascaram problemas graves com vegetarianismo, que é aceito por pais e por amigos."

Há poucos números oficiais sobre esse tipo de dieta no Brasil. Mas, em países como o Reino Unido, a porcentagem de quem não come carne cresceu. Foi de 1,8% da população nos anos 80 para 7% em 2005. A proporção de jovens "verdes" é ainda maior: 12%.

Mas vegetarianismo não é distúrbio: "Os vegetarianos, quando comem "direito", têm menos chances de ter doenças cardíacas e diabetes", diz Ramona O'Brien, nutróloga que fez a pesquisa americana.

O trabalho indica também que os "vegetas" com dieta balanceada tendem a ingerir mais vitaminas e menos gordura do que quem come carne.

Carne? Que nojo!

Mais vitaminas e bem menos comida, no caso de Bianca (nome fictício), 20. Ela estuda medicina em Florianópolis, onde mora só e cozinha para si. Não come nada que não tenha feito ela mesma.

Quando os amigos vão a um restaurante em que se come carne ("Que nojo!"), ela fica em casa e faz um estrogonofe de vegetais com leite de soja.

Ela perdeu 8 kg em nove meses de dieta "vegan" -não come ovos, leite e nenhum outro produto que venha de animais. Ainda faltam 3 kg, afirma.

Por mais que diga comer "bem", está com falta de nutrientes, diz sua nutricionista.

Essa mistura de "boa" alimentação com debilidade pode ser ortorexia, diz Luciana Florenzano, médica do Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares do Instituto do Hospital das Clínicas de SP.

Como Bianca, ortoréxicos têm obsessão por pratos "saudáveis" e têm horror a gordura e a carne. "Todo ortoréxico é vegetariano, mas o contrário não é verdade", diz Luciana.

O distúrbio foi descrito há pouco tempo e ainda não foi reconhecido pela Organização Mundial da Saúde, diz Luciana.

Ana (nome fictício), 20, é vegetariana há um mês. Deu a notícia no blog em que narra a epopeia para ir dos 95 kg que tinha ao começar a "postar" e os almejados 70 kg.

Na página, feita há dez meses, admite ter tomado remédios inibidores de apetite e pede desculpas para as leitoras quando come três pães franceses. Pelos comentários, elas dão broncas, mas perdoam.

A decisão de cortar a carne do prato foi tomada sem consultar um nutricionista. "Eles são sempre contrários, então pesquisei na internet mesmo."

Desde então, perdeu 2 kg e diz que se sente "mais limpa". Quer deixar mais 15 kg de lado e voltar à forma que tinha quando foi eleita miss estudante, na Paraíba, há seis anos.

"Não faço essa dieta só com o intuito de emagrecer, e sim pelo bem-estar", afirma. Só que o sentimento bom ainda não veio. Sente-se mais fraca desde que trocou as proteínas animais por chuchu e batata doce.

Lentilha na piscina

Cortar a carne da dieta sem procurar um especialista é o maior risco, diz a nutricionista da USP Silvia Cozzolino. Pode-se acabar virando um "vegetariano de batata", que só come carboidratos, por exemplo.

"O organismo do jovem tende a se adaptar a uma mudança de dieta", diz Silvia. Mas é provável que se precise de complementos de vitaminas.

Há exceções: filho de vegetarianos, Juliano Vilela, 16, nunca tomou pílulas. Tampouco comeu carne. "Não sei qual é o gosto e nem quero saber."

Os resultados de seus exames médicos são adequados para a idade, dizem os pais, e ele tem força suficiente para competir na natação. "Mas tem que comer lentilha depois da piscina."

http://gazetaweb.globo.com/v2/noticias/texto_completo.php?c=176596

Anônimo disse...

Olá. Eu nem tinha idéia que tinha um grupo de vegetarianos em Santa Maria! Faz 1 ano que comecei a mudar meus hábitos. Mas não sei em que termo me enquadro porque não tomo leite e derivados também e raramente como ovo. Sou sozinha, por enquanto, nessa luta. E é difícil estar sozinha, até porque os médicos e nutricionistas daqui, pelo menos os que eu conheço, não tem pleno conhecimento sobre o assunto e fazem cara feia quando digo que não vou comer carne branca nem tomar leite nem queijos, etc. Adorei saber desse grupo e fiquei sabendo pela nutricionista Claudia Ludkin, de POA. Estamos nos contatando por e-mail e ela que me falou que achava que havia um grupo vegan aqui na cidade. Gostaria de saber como participar e contribuir.
Um abraço!
Fernanda.

Coquete disse...

Já fui vegetariana por dois anos seguidos sem nenhuma recaída, mas agora infelizmente me entreguei aos vícios da carne e sou refém das gordurosas comidas servidas no almoço do meu trabalho. Não foi uma opção minha largar o vegetarianismo mas sim porque nem sempre dava pra comer apenas alimentos que não derivavam de animal, inclusive leite e ovos que é mais difícil de fugir! Ser vegetariano não é fácil! Mesmo quando se pensa como é nojento e como o bicho sofreu pra que pudesse comê-lo, ainda sim, sou obrigada a comer! Obrigada eu digo porque na maioria das vezes não tem outra opção mesmo. Acho que ser vegetariano só dá certo mesmo quando se mora sozinho, ou quando mora com alguém quetamb´me tem esse hábito alimentar ou por fim, quando se tem alguém que mesmo que não seja vegetriano, apoia a sua idéia e até faz comida pra você, mas na minha situação foi bem diferente disso. Sinto-me agora angustiada por ter que comer bichos mortos, principalmente quando não são bem preparados! Bem, é isso, achoq eu já escrevi demais, e quem é que vai parar pra ler todo esse texto mesmo né?!