quinta-feira, 16 de julho de 2009

O Pássaro Cativo


Armas, num galho de árvore, o alçapão;
E, em breve, uma avezinha descuidada,
Batendo as asas cai na escravidão.

Dás-lhe então, por esplêndida morada,
A gaiola dourada;
Dás-lhe alpiste, e água fresca, e ovos, e tudo:
Porque é que, tendo tudo, há de ficar
O passarinho mudo,
Arrepiado e triste, sem cantar?

É que, crença, os pássaros não falam.
Só gorjeando a sua dor exalam,
Sem que os homens os possam entender;
Se os pássaros falassem,
Talvez os teus ouvidos escutassem
Este cativo pássaro dizer:

“Não quero o teu alpiste!
Gosto mais do alimento que procuro
Na mata livre em que a voar me viste;
Tenho água fresca num recanto escuro
Da selva em que nasci;
Da mata entre os verdores,
Tenho frutos e flores,
Sem precisar de ti!
Não quero a tua esplêndida gaiola!
Pois nenhuma riqueza me consola
De haver perdido aquilo que perdi …
Prefiro o ninho humilde, construído
De folhas secas, plácido, e escondido
Entre os galhos das árvores amigas …
Solta-me ao vento e ao sol!
Com que direito à escravidão me obrigas?
Quero saudar as pompas do arrebol!
Quero, ao cair da tarde,
Entoar minhas tristíssimas cantigas!
Por que me prendes? Solta-me covarde!
Deus me deu por gaiola a imensidade:
Não me roubes a minha liberdade …
Quero voar! voar! … “

Estas cousas o pássaro diria,
Se pudesse falar.
E a tua alma, criança, tremeria,
Vendo tanta aflição:
E a tua mão tremendo, lhe abriria
A porta da prisão…

Olavo Bilac

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Relato de uma santa-mariense que se tornou vegetariana na Austrália

Foi no inicio de outubro, deste ano, que resolvi virar vegetariana. Claro que a decisão não veio do nada. Eu estava no processo há um bom tempo: por mais que adorasse churrasco, minhas mais recentes experiências carnívoras (de uns quatro anos pra cá) traziam sempre questionamento e culpa: passei a analisar mais e mais o fato de que eu estava ingerindo um ser morto. Comecei a ficar com nojo do coração de galinha. Analisava o sangue misturado com o arroz e não conseguia parar de pensar no fato de que aquele sangue, antes, mantinha vivo um ser.

“Queria ser vegetariana!”, idealizava. Mas, meio segundo mais tarde, já me desiludia: eu nunca conseguiria parar de comer carne. Eu, que nunca fui fã de vegetais e saladas, me frustrava com meu plano inatingível. Mas deixava pra lá e seguia.

O tempo passava e, enquanto isso, me mantive ocupada com meu AMOR incondicional por cachorros e animais em geral. Nada num nível emocional demais, eu estava consciente do fato, ficava frustrada com as barbaridades mas ao fim do dia, seguia a minha vida normal.

Mudei para Sydney em 2006 e já de cara conheci as duas pessoas que seriam minhas melhores amigas: uma brasileira e uma australiana, ambas vegetarianas.
Aqui em Sydney todo o restaurante oferece pelo menos duas ou três opções vegetarianas no Menu, então o “ser vegetariano” aqui soa muito mais normal do que no RS. Comecei a me acostumar com a idéia mas nunca pensei muito no assunto, afinal eu estava ocupada com outras coisas.

Acredito que dois episódios foram os “turning points” da minha vida.
O primeiro, quando fui jantar com meu namorado em um restaurante elegante e pedi lamb shanks (pernil de ovelha). O prato chegou e fiquei paralisada diante daquele pedaço de carne em sua mais fiel forma: eu fiquei imaginando aquela perna em vida, por onde correu, o que fez... E aquele osso visível foi o suficiente para me impedir de comer.

Confesso fiquei um pouco surpresa com minha reação, mas por outro lado abri um pouco minha mente. Coincidentemente, na semana seguinte, resolvi pesquisar ONGS que cuidam de direitos animais, pois eu estava a fim de fazer algum trabalho voluntário. Visitei PETA, WWF, WSPA e outras ONGs do Brasil quanto fatalmente cheguei ao filme Earthlings. E este foi o meu segundo “turning point”. Assisti ao filme sozinha em casa e chorei tanto, mas tanto, que cheguei a vomitar. Choro de raiva e tristeza, me frustrei, amaldiçoei toda a raça humana, fiquei com vontade de sumir desse mundo, pedi perdão pra Deus, Allah, Buda, Matrix, o que fosse.... Fiquei com vergonha de ser humana e viver num mundo desses.

No dia seguinte, virei vegetariana. Sem estudar dietas alternativas, sem pensar em repor o que fosse, sem me preocupar com o que iria comer (lembrando sempre que eu não como muita salada) mas única e exclusivamente pelo fato se que eu não iria mais fazer parte daquilo.

As primeiras semanas foram HORRÍVEIS. Eu fiquei com muita raiva. Muita frustração. Fiquei amarga, achando que todo o ser humano era egoísta e imprestável, que o mundo era horrível. Chorava quase todos os dias e as cenas do filme não saíam da minha cabeça. Resolvi acreditar que todo mundo que come carne não prestava. Briguei com mãe, irmã, amigas, primos. Meu namorado sempre foi vegetariano, mas o fato de ele achar que eu estava sendo muito radical era motivo pra eu enquadrar ele no mesmo grupo dos humanos complacentes. E assim não vivi minha vida durante aquelas semanas. Eu estava em raiva constante. Amarga. Infeliz por ver que o mundo tava uma m*&^%$ e eu não iria conseguir mudar tudo sozinha.

As reações das pessoas, então, me deixavam ainda mais infeliz. Obviamente, eu mandei o filme pra todo mundo que eu conheço e respostas do tipo: “Ai, se tem sangue nem me mostra”, “Mas tu não vai mudar o mundo, não adianta parar de comer carne” ou ainda “é triste né? E aí, o que vai fazer no fim de semana?” só me fizeram ver o quão egoísta, fútil e insensível é o ser humano.

Me desiludi com cada pessoa que contatei ao ver a indiferença com que lidavam com o tema. Parece que a maioria das pessoas vê as questões globais (ambiente, animais...) como algo que não lhes cabe. Algo que é de responsabilidade de alguém que não eles. E aí tudo fez sentido na minha mente: por isso que esse mundo está assim.
Enfim, me vi isolada e incompreendida, buscando apoio dos filósofos e da Pamela Anderson (maior ativista do Peta).

Segui na fase de revolta e amargura por umas três semanas até ter um grande surto, quando chorei por umas duas horas e cortei relações com todos os amigos e parentes próximos. Meu namorado, então, falou comigo e deixou claro que eu iria viver eternamente isolada socialmente e que seria melhor eu continuar vivendo a minha vida, porque até então, desde o momento que eu decidi ter virado vegetariana eu não falava, não pensava e não fazia outra coisa.

Foi assim, após chegar ao fundo do poço psicológico que resolvi, sem nenhuma outra opção, “take it easy” e relaxar um pouco. Com muita sorte, logo após esses surtos e desgaste aos quais estive submetida, comecei a tomar conhecimento de mais e mais vegetarianos. No trabalho. Amigos de amigos. Anywhere!

Fiquei sabendo de vocês! Da minha amigona Thais que também virou, e de várias outras coisas que foram me deixando mais e mais otimista. Me afiliei em várias ONGS e agora to fazendo relações-públicas como voluntária pro PETA Asia-Pacific.

O não comer mais carne às vezes fica muito difícil. Eu trabalho num Shopping Centre em cuja praça de alimentação temos MC Donalds, Hungry Jacks, KFC, O Porto... carnificina. Nessas situações de pressão, onde não tenho opções e preciso comer, me permito comer sashimi (salmão) porque refleti e cheguei a conclusão de que se alguém tem que ser comido, pelo menos o peixe passou a vida nadando livremente e não confinado sofrendo. Obviamente isso é o meu período de transição apenas, que não durará mais de três meses. Como estou estabilizada psicologicamente, resolvi ir com calma e fazer a coisa devagar para que não haja riscos de desistir no meio do caminho. Mas isso certamente não aconteceria.

Acho que a mudança é um caminho sem volta e ser vegetariano, apenas, não me basta. Acho que devemos agir em ONGS (ou mesmo em organizações radicais como a ALF – que, aliás, eu AMO) e também não mais financiar a indústria de cosméticos, couro, lã e pele.

Todos esses temas me atormentaram durante essas semanas de IRA que citei. Agora estou estudando formas de fazer alguma coisa. Nunca mais comprei nenhum artigo de couro, lã ou pele (e jamais comprarei de novo) e tudo o que entra na minha casa é não testado em animais e biodegradável.

Muita gente não sabe do que acontece nesse tipo de indústria e obviamente cabe a nós acabar com isso. É ridículo e cada vez que vejo qualquer cena relacionada a isso, sinto todas aquelas coisas que citei anteriormente.

Sei que fui muito passional no início da minha transição. Atualmente, pelo bem da minha sanidade mental e vida em sociedade, estou mais calma, contente em fazer minha parte. Não vou negar, porém, que odeio (e jogaria uma bomba, se pudesse) a China, por toda a barbaridade que acontece com os animais (se vocês não sabem, por favor, pesquisem e vejam vocês mesmos) e que cada vez que vejo alguém se deliciando com um pedação de carne me vem em mente toda a sorte de insultos.

Mas vou trabalhando a minha paz. Fiquei MUITO feliz de saber da existência de vocês e confesso que isso colaborou muito na reestabilização da minha psique. Foi uma injeção de ânimo saber que tem gente em SM se ligando nas coisas.

(fiquei sabendo recentemente que a UFSM faz vivisecção e outros procedimentos em animais vivos!!!!!!!!!!!!!!! Mas isso é pauta pra uma outra hora.)

Enfim, gurizada.... Desejo a todos um ótimo fim de ano e que todos tenham ATITUDE, saúde e sorte em 2009!


Dri Roveda – recém vegetariana
Gold Coast, Australia

Campanha "Neste Natal Não Coma o Presépio"





Na véspera do Natal, a comunidade "Vegetarianos em Santa Maria" ofereceu informações para interessados no tema. Foram distribuídos DVDs e material informativo. E a sugestão dada à população foi a de que, pelo menos no Natal, não se consumisse carne, visto que é incoerente comemorar às custas do sofrimento e morte de seres inocentes. Vale registrar que fomos muito bem recebidos e que havia vários interessados que nos procuraram!